segunda-feira, 21 de julho de 2008

Broken Social Scene

A querela dos gêneros é fútil. Ainda que admitamos alguma funcionalidade proporcionada pela classificação, esta beneficia apenas organizadores de prateleiras e fãs preguiçosos. Fidelidade a algum selo, ou cena pode sim criar escolas, como acontece em qualquer arte. Mas na música, o que é tão boçal é a vinculação musical a estilos de vida.
A rubrica indie rock, que inicialmente dizia respeito a independência de gravadoras, criou uma identidade sonora facilmente perceptível: uma certa precariedade na produção, que podia resultar em soluções criativas; uma tendência a experimentações na guitarra (afinações, efeitos, estrutura, inabilidade, etc...); e por fim, e não menos importante, modéstia em termos de notoriedade. Independente da lei da oferta e da procura baseada na insaciabilidade adolescente e das miríades de subgêneros que se seguiram, algumas bandas nos apresentam uma perspectiva mais atual da luta travada em nome da inovação contra o comodamente estabelecido.
O Broken Social Scene é uma banda comumente associada ao indie rock, mas suas proporções são megalomaníacas. Seu som parece clamar por grandes palcos, que acomodem seus 19 músicos, para ouvirmos em máximos decibéis o que a produção nos discos parece intencionalmente ocultar.
Se em Feel Good Lost (2001) e You Forgot it in People (2003) mantêm uma reserva introspectiva, ótima para solidão de grandes e tediosas cidades, no epônimo de 2005, produzem o próprio festival, para se dançar pulando na cama (7/4 Shoreline e Superconnected). Há ruído, mas sua origem é desconhecida, destoando com a clareza de elementos que normalmente são ruidosos, como os pratos. Algumas músicas tem uma velocidade perigosa para o trânsito (Fire Eyed Boy), em que colaboram uma profusão de guitarras fragmentadas. Outras, são atmosféricas ao estilo de Brian eno (Finish Your Collapse and Stay for Breakfast e Tremoloa Debut). As vozes são aéreas, e quase (se não totalmente) ininteligíveis, apesar de uma simplicidade melódica cativante. A voz de Feist, às vezes sensualmente ronronada (Swimmers), nos aproxima de uma familiaridade pop. No todo, formam uma massa sonora de difícil decomposição, extremamente coesa, mas de fácil penetração.


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