quinta-feira, 10 de julho de 2008

É carnaval na Babilônia


Há algum tempo penso o que escrever sobre Amon Düül II. Como descrevê-los sem limitá-los? Como fazer compreensível em texto a aparente balbúrdia talentosa e inspirada desses alemães, que, no final da década de 60, junto com diversas outras bandas de Krautrock, longe dos olhares das massas, começavam um movimento que, ao longo das próximas décadas, mudaria significativamente os rumos da música moderna?
Como fazer juz à genialidade desses heróis anônimos, que, dos confins de uma Alemanha ainda cicatrizando suas feridas do pós guerra, formatavam caminhos novos que até os dias de hoje são copiados por pretensos inovadores e falsos revolucionários, que se aproveitam justamente do fato desses, nossos (e deles) 'heróis' permanecerem no anonimato?
Foi justamente numa época em que o mundo dificilmente tinha ouvidos para qualquer coisa fora dos polos ingleses e norteamericanos, que legiões de alemães ávidos por novidades, invenções e experimentações juntavam-se em semi-comunidades artísticas e, não raro pululavam novas bandas, com propostas totalmente diferentes daquelas que o público em geral estava acostumado. Era comum tais grupos possuírem membros intercambiáveis, músicos que passeavam fazendo historia por onde quer que passassem, sem imaginar sua própria importância pro futuro da música. Numa dessas comunidades surgiu o Amon Düül II, nascido de dissidentes de um outro grupo chamado simplesmente Amon Düül.
Seria fácil escrever um longo texto elogiando, disco a disco, faixa a faixa, todo o trabalho da banda. Traiçoeiramente fácil, pois, quaisquer elogios, dos mais superlativos, e quando se fala de algo que se admira tanto (ou também do que se despreza), tende-se à recorrer à hipérboles, aos mais modestos, provavelmente eu não faria justiça ao poder de inovação, à qualidade, ao despreendimento temático, estrutural e estilístico que são as principais características do Amon Düül II.
O que fazer então? Sugerir discos? Todos! Sugerir músicas? Impossível escolher algumas sem deixar de fora outras geniais e ao mesmo tempo escolher as que representam o trabalho da banda, já que, como dito, sua "inconsistência" estilística é uma de suas consistências. Por fim, deixando toda cautela de lado e indicando apenas uma, eu diria: ouça Syntelman's March of the Roaring Seventies... e depois ouça a faixa seguinte... e a seguinte... e todo o disco... e todos os discos...
É o tipo de música que eleva o espírito, e esse tipo de música é difícil de descrever, de se fazer inteligível enquanto tenta dizer a sensação que toma conta quando a Phallus Dei chega ao seu ápice.
É inútil escrever. Me resta esperar que você, que teve paciência de ler até aqui, sinta-se compelido à ouví-los e desejar que você experimente a felicidade, sim, felicidade, que toda a selvageria e imperfeita perfeição desses alemães inovadores e destemidos causa na alma de quem abre seus ouvidos a suas músicas.


Discografia:

Phallus Dei (1969) * * * * * √
Yeti (1970) * * * * * √
Tanz der Lemminge (1971) * * * * * √
Carnival in Babylon (1972) * * *
Wolf City (1972) * * * *
Vive la Trance (1973) * * * *
Hijack (1974) * * * *
Live in London (1974) * * * *
Made in Germany (1975) * * * * *
Utopia (1982) * * * *

√ - (Volume 11 pick)



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