terça-feira, 15 de julho de 2008

Wire - No blind spots...

Em pleno arroubo Punk na inglaterra de 1977, uma banda ousou transgredir o que ainda soava como último recurso. Pois na ideologia “Do whatever you want” que justificava como libertadora a crueza, inventividade era a última das preocupações, muito menos importante do que a tão apregoada “atitude”, ou seja, a agressividade inócua, a moda esfarrapada, e no melhor dos casos, uma falsa agenda política que ia do niilismo a extrema direita no intervalo entre a euforia e o tédio. Estéticamente, precisaríamos esperar mais um ano até que Joy division e a Factory records produzissem alguma inovação.
O Wire se antecipou, e com as poucas peças que tinham em mãos montaram pequenas obras de arte, instalações geométricas na galeria do ouvido interno. No primogênito Pink Flag (1977), desdenham dos riffs sujos que sustentavam a estrutura verso-refrão do punk rock. As guitarras, levemente saturadas, estão à beira de cair em loops reverberados. Ritmicamente, são irresistíveis para dedos tamborilantes e danças desajeitadas. A produção irrepreensível realçou a qualidade visual do som, distinguindo-a da bidimensionalidade punk por uma certa espacialidade quase palpável.
Com tal composição era previsível a aderência do próximo disco à texturas sintetizadas (Chairs missing, 1978). Aqui as camadas são interpostas epifanicamente. É um trabalho asséptico de criação de imagens, pastorais como em outdoor miner, antárticas como em Marooned.
No terceiro álbum (154, 1979) a banda se aproxima de cenas ainda mais abrasivas, paisagens sonoras que dissolvem-se em pura atmosfera. Aproximam-se da perfeição literária em músicas como a sublime The 15th e a soturna The other window, que narra as visões de um estrangeiro pela janela de um trem.
Essa trilogia é insuperada na produção posterior do Wire, uma estréia visionária que previu os rumos que o pós-punk tomaria, e até hoje tem o despeito de soar atual.

Um comentário:

Anônimo disse...

uma resenha excelente, que expressa de forma clara o trabalho do wire;
parabens