quinta-feira, 31 de julho de 2008

Kameradschaft!


Às vezes música só serve pra divertir, dançar (se você gosta de dançar) ou como pano de fundo para qualquer sorte de atividade. Às vezes serve apenas como um antídoto contra o silêncio insuportável da solidão e, ás vezes, apenas como algo para tirar sua atenção de um engarrafamento. Às vezes, música é só música. Mas, algumas vezes, certas músicas adquirem um aspecto diferente, deixam de ser matéria secundária ou apenas melodias que delineiam acontecimentos, embalam momentos, ela, a música, tais vezes, pára de ser apenas ritmo para se dançar.
Existem músicas que se transformam em amigos, companheiros, confidentes. Nela se tem companhia pra dividir felicidades, aliviar tristezas, se tem ombro, se tem uma mão. Não poderiam deixar de existir músicas que são companhias sórdidas para inevitáveis momentos menos sublimes, de altivez, raiva, intolerância e outras emoções vulgares, a má companhia que impele rumo ao lado menos nobre do espectro das volúpias humanas e estimula a dar vazão a tudo que tenta se esconder. E, é natural, uma banda que gravasse tais músicas seria contestada e solo fértil pra especulações e acusações.
DEATH IN JUNE é, sem dúvida, uma dessas, um desses 'amigos'. Mesmo substituindo a corriqueira artimanha usual de guitarras ensurdecedoras e o zurzir da bateria, comum à bandas que querem soar agressivas, pelo simples violão e voz, Douglas Pearce e seu Death in June conseguem criar atmosferas densas, climas insalubres, ele consegue transformar suas músicas na companhia obscura que faz da alma tranqüila algo vil. Não são raras suas músicas que exaltam sentimentos como amizade, cumplicidade e camaradagem, entretanto, invariavelmente, elas se referem à uma irmandade encontrada através de maneirismos pouco ou nada ortodoxos, algumas também exaltam orgulho racial e cultural, algo que, conjugado à indumentária militar e à simbologia análoga à também adotada pelos nazistas, sugerem atração por algo tão 'atraente' quanto aviltante.
Porém, isso posto de lado e concentrando em sua obra, é difícil encontrar música que se conecte de forma tão primordial à alma. Com sua simples beleza e força, Death in June parece por vezes ser o som do lado lúgubre do espírito Humano expondo a sujeira em cada um sem preocupações hipócritas com jugalmentos ou noções morais pré-concebidas do que é bom ou mau e isso é, não resta dúvidas, um som que liberta.
Com o passar do tempo, desde seu início até o presente, a banda passou por fases de diferentes sonoridades, porém jamais diluiram seu 'peso' peculiar, caracterizado pela voz profunda e cativante de Douglas e seu simples violão onipresente que, paulatinamente, induz ao êxtase, por suas mensagens livres do ácido moral. Através de seu amadurecimento permaneceu também incólume a qualidade única de ser o tal amigo, aquele que lhe guia enquanto desbravam intrépidos o lado mais sujo e feio da sua própria Humanidade.


Death in June - Rose Clouds of Holocaust
(do disco Rose Clouds of Holocaust - video não oficial)



Death in June - All Pigs Must Die
(do disco All Pigs Must Die - video não oficial)



Death in June - Little Black Angel
(do disco But What Ends When the Symbols Shatter? - vídeo não oficial)



Death in June - Hullo Angel
(do disco Discriminate - ao vivo)




Discografia:

Nada! (1985) * * * *
The World that Summer (1986) * * * * * √
Oh How We Laughed (1987) * * * *
The Brown Book (1988) * * *
But What Ends When the Symbols Shatter (1992) * * * * * √
Rose Clouds of Holocaust (1995) * * * * * √
Occidental Martyr (1996) * * *
Take Care and Control (1998) * * * *
Heilige! (2000) * * * * * √
Operation Hummingbird (2000) * * * * * √
Discriminate (2000) * * * *
Wall of Sacrifice (2004) * * *
All Pigs Must Die (2005) * * * * * √
The Guilty Have No Pride (2006) * * * *
The Rule of the Thirds (2008) * * * *

√ - (Volume 11 pick)

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