sexta-feira, 11 de julho de 2008

Memory Cords Over the Bay




Alguém uma vez disse que "talvez existissem mesmo gigantes andando sobre a Terra por volta de 70 e poucos". Se realmente existiam e andavam a Terra livremente, tais gigantes, eu tenho certeza do nome de, pelo menos, dois: Damon Edge e Helios Creed.
Enquanto seus nomes apenas sugerem que eles talvez sejam seres grandiosos e diferentes de nós, é o seu legado sonoro, o rock 'n roll nu, cru, bombástico, de alma robótica chamado CHROME que remove qualquer sombra de dúvida que possa restar.
No período em que começaram suas atividades, por volta de 76, numa era marcada pelo 'fim' do progressivo e o 'boom' do punk, o Chrome era algo como um filho do meio da história, sem fincar seu pé em nem um, nem outro movimento, mas emprestando de ambos para criar sua própria barulhenta e inconveniente forma de perturbação, também chamada de música. Como é comum aos gigantes, por onde passavam Damon Edge e Helios Creed, estragos eram normais. Provavelmente garotos jamais olharam para seus instrumentos novamente, sentindo-se maricas por querer fazer suas pentatônicas, provavelmente namoradas abandonaram seus mocinhos, sonhando um dia tornarem-se companheiras de seres humanos superiores, daqueles que grunhiam, berravam, destruiam guitarras sem despedaçá-las, marcavam vidas e rompiam barreiras sem ao menos tentar.
Em seus piores momentos, antes da chegada e após a partida de Helios Creed, Damon Edge ainda conseguia criar momentos absurdamente perturbadores, seja pelo barulho, seja por ser diferente de tudo que se ouvia então, seja por simplesmente querer ser pertubador, mas é em companhia de Creed que ele realmente brilhava, e quando Chrome brilhava, ofuscava tudo num raio de um milhão de quilômetros.
Após um começo titubeante, buscando um solo ainda novo a devastar, em The Visitation, algumas mudanças ocorreram e, com a entrada de Creed em cena, Alien Soundtracks apareceu no horizonte. Os vocais agudos e distorcidos de Edge, sua bateria gaguejando batidas enquanto a guitarra de Creed arrebenta irreversivelmente os limites entre o aceitável e o absurdo, seriam a marca registrada da banda e aquilo por qual ela ainda é lembrada, por aqueles poucos que dela ainda lembram.
Suas letras praticamente ininteligíveis parecem falar de um futuro tecnológico precário, clonagens, invasões espaciais, um estado autoritário e castrador, claro, tudo num tom absurdo que traz a mente os momentos mais insanos de Brazil - O Filme.
Esse massacre sonoro em lo-fi delineado por paranóias futurísticas messiânicas durou enquanto durou a parceria Creed/Edge e talvez tenha como documentação mais relevante e completa a coletanêa "Having a Wonderful Time With the Tripods", uma coleção psicopata dos mais insanos, logo, melhores e mais descontrolados momentos que a dupla produziu, além disso, é um dos poucos lugares onde pode se encontrar a faixa "Meet You in the Subway", uma punk-proto-industrial-whitetrashy fantástica que talvez tenha seu trono como Melhor Música ameaçado apenas por "You've Been Duplicated", "Half Machine Lips Move" e "TV as Eyes".
A opinião que impera na maioria dos casos é que, após a saída de Helios Creed, Damon Edge não conseguiu manter o mesmo nível de brilho e agressividade de outrora, e isso é verdade. Aquela ameaça implícita e agressividade na sua cara, como um filme de Sam Peckimpah, sumiram, dando espaço ao contumaz Edge para expor talvez algo um pouco mais pessoal, ainda assim calcado em distopias (de novo?) futurísticas. É quase um desafio, mas como alguém pode ouvir "Walking and Looking for You" e dizer que Damon Edge sozinho é incapaz de produzir música boa? Certo, as guitarras agora, não mais a cargo de Helios, soam mais genéricas, mas novas nuances tomam o seu lugar, a agressividade cede espaço a paranóia. "Angel Fire", "If You Come Around", "I Found Out Today", os exemplos de Edge sozinho se virando perfeitamente bem sob a alcunha Chrome são inegáveis e estão todos compilados em outra coletânea chamada "Having a Wonderful Time in the Juice Dome".
Infelizmente, gigantes não são imortais. Em 1995 Damon Edge deixou de ser. Até o dia de hoje, Helios Creed ainda grava e lança, álbum após álbum, um trabalho de qualidade excelente, mas pra sempre seus nomes serão lembrados como aqueles gigantes que devastaram tudo ao seu redor sem mesmo um olhar de soslaio, sem mesmo se importar se o solo que eles pisavam serviria pra alguma coisa depois que eles passassem, talvez sem imaginar que toda devastação que causaram serviria de alicerces para futuras gerações de admiradores e seguidores. Damon Edge e Helios Creed serão para sempre lembrados como os gigantes do Chrome.





Discografia:

The Visitation (1977) * * *
Alien Soundtracks (1978) * * * *
Half Machine Lips Move (1979) * * * * * √
Red Exposure (1980) * * * *
Blood on the Moon (1981) * * * *
3rd From the Sun (1982) * * * * * √
No Humans Allowed (1982) * * * *
Raining Milk (1983) * * *
Into the Eyes of the Zombie Kings (1984) * * * *
Having a Wonderful Time With the Tripos (1995) * * * * * √
Having a Wonderful TIme With in the Juice Dome (1996) * * * * * √

√ - (Volume 11 pick)

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