terça-feira, 22 de julho de 2008

O Velho Sempre Novo NEU!

Uma pergunta me assombra: Por que a música, hoje, é tão desinteressante? Por que não é nem um pouco empolgante e não contém os menores traços de algo que possa ser considerado original? Enquanto as duas primeiras afirmações interrogativas são opiniões pessoais, a terceira é categorica e irrefutável. Tudo que se ouve hoje são fórmulas reaproveitadas, já exploradas e aperfeiçoadas, pelo menos, 30, 35, 40 anos atrás, uma sorte de paroxismo inexorável do Ready Made. Desde o grupo atual mais "revolucionário" e "avant-garde" ao mais simples rockinho de garagem despretensioso, nada mais é novo, nada trilha caminhos inexplorados, nada traz aquele ar inebriante, caracterizado pelo seu frescor, oriundo das idéias pioneiras e distintivas, que denotam espíritos livres e inspirados.
Será culpa do imediatismo imperativo, que coibe qualquer possibilidade de se ser ambicioso e ir além da surrada, cansada e aleijada estrutura pré-concebida? Será que o ouvido não é mais paciente como fôra outrora ou, simplesmente, será que algumas pessoas foram tão brilhantes que fizeram tudo antes e não deixaram espaço pra novas descobertas? Será apenas preguiça? Talvez a resposta mais aceitável seja: tudo isso... e mais.
Em 1971 dois músicos, Michael Rother e Klaus Dinger, que já haviam tocado juntos em um grupo iniciante que se chamava Kraftwerk, resolveu trilhar seu próprio caminho, um desses caminhos inovadores que, posteriormente, se tornaria mais uma fórmula a ser massacrada pela falta de inspiração de músicos fastidiosos. Sob o epíteto NEU! o duo lançaria três discos, todos chamados Neu!, e, com eles, o embrião de algo totalmente novo (como sugere o próprio nome).
Encerrados em Düsseldorf, Rother e Dinger, entregues aos cuidados de Conny Plank, criariam o tipo de som que apenas homens que nasceram para serem imortalizados, heróis, poderiam criar. Plantaram, inscientes, a semente que mais tarde se transformaria em toda uma flora diversificada e ao mesmo tempo, involuntariamente inócua e frívola. NEU! é, indiscutivelmente, um dos exemplos mais claros do que posteriormente seria chamado Krautrock, uma palavra que denota muito mais um estilo livre de ser, pensar e criar música do que necessariamente um estilo musical sedimentado, ditado por comuns ideais estéticos.
As guitarras sobrepostas, maravilhosamente embrenhadas umas nas outras, formando uma grande e metódica confusão de timbres e sons, tocadas por Rother, e a bateria jovial, pulsante, repetitiva e sedutora de Dinger, combinadas com destreza pela produção visionária e irrepreensível de Plank seriam as marcas registradas de um grupo que, apesar de jamais ter causado grande impacto comercial em seu próprio tempo, como tantos outros, revolveu a cena musical global de forma inegável nos anos porvir. Sob os ecos de NEU! presentes em "artistas" atuais estão escondidos, na maior parte das vezes, ouvintes interessados, mas compositores preguiçosos e músicos covardes, repetidores no lugar de criadores (alguém aí gosta de Stereolab?).
Falo de certos artistas e temo soar como um arqueologista, escavando o tempo, me referindo eternamente à civilizações passadas, que viviam sob valores díspares daqueles de nosso Zeitgeist, entretanto, prefiro correr esse risco do que acostumar-me à caterva nefasta que, em sua eterna tentativa de soar atual, copia e imita os "desconhecidos" do passado, travestindo de modernidade o que já comemora quase meio século de existência, porém, nada posso fazer se os 'krauts' visionários deixaram espalhados tesouros de valor inestimável para futuras gerações se deleitarem... e copiarem (a forma menos honesta de elogio). NEU! que o diga.


NEU! - Hallogallo
(do disco NEU!)



Neu! - Isi
(do disco NEU! 75)



Neu! - Hero
(do disco NEU! 75)



Discografia:

NEU! (1972) * * * * * √
NEU! 2 (1973) * * * *
NEU! 75 (1975) * * * * *

√ - (Volume 11 pick)

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