quarta-feira, 30 de julho de 2008

God Fodder para ressuscitar os mortos

Não sei se pela proximidade, os anos 90 ainda parecem musicalmente inassimiláveis. Ok, houve o boom do tecno. Fora isso, abolimos excessos dos aloprados anos 80, abraçamos de vez, para bem ou mal, o videoclipe, e o rock alternativo, na esteira do pós punk, lançou duas ou três modas (grunge, shoegaze, pop punk...). Foi por aí que desconfiaram que o rock havia batido as botas, ou lançaram esse marketing messiânico para levá-lo de vez ao suicídio. Enquanto aguardam como paramédicos tarados para ressucitar o rock, nós continuamos desenterrando discos que soam vivos como recém nascidos.
Há mais ou menos dois anos, fui visitar um grande amigo do qual nunca mais tinha ouvido falar. Aliás, as últimas notícias que tive dele datavam de uma temporada de alta umidade relativa do ar no cerrado, de pastos fartamente cobertos de cogumelos, que proporcionariam longas, e as vezes sem volta, incursões psicotrópicas a juventude entendiada de Brasília. Encontrei-o em sua bucólica cabana, um pouco mais magro, soturno, cheio de preocupações filosóficas, bancando o guarda florestal dos terrenos baldios do bairro. O que mais me preocupou foi descobrir que ele, antes dotado de um gosto musical admirável, havia se rendido ao Trance mais fajuto que lhe tinha caído nas mãos. Sentí como um chamado, uma divertida missão, restaurar-lhe os sentidos e a lucidez, abastecendo seu computador com cargas de mp3, sem desconfiar que sua indiferença seria total e absoluta. Perseverei na tarefa meses sem sucesso, regredindo até o começo dos anos 90, até chegar em 1991, o ano em que o Ned's Atomic Dustbin lançou o fenomenal God Fodder. E foi nos primeiros acordes de Grey Cell Green que fagulhas brilharam nos olhos do meu amigo desencaminhado...

When your desire
has been found,
you´ll be running
far away.

Daquele momento em diante operou-se uma completa metamorfose em seu espírito, e dentro em pouco estaríamos dirigindo pela cidade com o volume máximo ao som dessa revigorante ração divina. Hoje ele passa bem, e mal se lembra do torpor que o acometeu.


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