sábado, 30 de agosto de 2008

cavalo selvagem

Este é um daqueles momentos nos quais uma imagem supera qualquer palavra (ou conjunto delas). Tal imagem certamente seria uma pintura. O sonho impressionista que Monet não conseguiu pintar. Talvez ostentasse um céu, talvez um Sol e tanto Sol quanto céu se refletissem à superfície de um rio (talvez um lago) em evidentes pinceladas delicadas, desleixadas e precisas ao mesmo tempo. A luminosidade seria densa de fim de tarde e seria quase possível pegá-la e sentí-la aquecendo as mãos enquanto escapa por entre os dedos. Provável, no mesmo quadro, na mesma paisagem, fosse possível vislumbrar, caso se observasse com dedicação, o fugaz espectro pacífico de um animal, certamente um cavalo, bebendo mansamente da água em pinceladas refulgentes. Embora o Sol desça em tangíveis raios sobre a paisagem, à distância estariam nuvens cor de chumbo, carregadas e decididas por se desmanchar em chuva renovadora sobre o calmo dia que morre.
Seria uma paisagem bastante nítida, no entanto, ela mudaria completamente de forma dependendo do ângulo observado, sequer conservaria suas cores, embora certamente carregasse ainda a mesma calma e morna sensação agradável de 'retorno à casa'.
Tal quadro permanece não pintado por ser impossível criá-lo com pincéis, tintas e uma mera tela em branco. Para ser perfeito, precisar-se-iam guitarras.
E com elas Mark Linkous deu vida em forma de música à o que foi até aqui descrito e propalou ao mundo em quatro álbuns (até o presente) e sua banda, SPARKLEHORSE, é melhor compreendida dessa forma do que se fosse dedicado tempo à falar unicamente sobre sua música, um som que inspira devaneios, tanto os piegas quanto os venturosos, e traz à mente imagens que não encontram (e nem poderiam encontrar) correspondentes no mundo das coisas reais que se revelam aos olhos.
Espere encontrar em suas músicas guitarras que emanam calmamente dos alto-falantes e envolvem sem fazer alarde quase abafando a frágil voz de Linkous. Outras vezes as guitarras vêm como monções, seu ataque é mais feroz e por vezes são totalmente substituídas por mansos violões esparsos, sempre permanecendo a sensação peculiar de um sonho que foge à mente logo após despertar, do qual se guarda poucos fragmentos, insuficientes para concatenar uma narrativa coerente, mas, ainda assim, material abundante para fantasias.
Linkous, com bastante parcimônia, levou 11 anos para lançar apenas quatro álbuns, embora permitindo-se hiatos que chegaram a 5 anos entre um disco e outro, tal tempo de incubação se provou repetidamente justificado tendo em vista o esforço sobre-humano necessário à alguém dedicado ao infrutífero ato de tentar encontrar uma única música ruim nas pouco mais de 57 que compõem a obra oficial da banda.
Mergulhado num mundo criado por ele mesmo e uma estética bastante peculiar, Sparklehorse recusa a se encaixar neste ou naquele gênero, e, embora goze de certo reconhecimento, ainda está longe de ter o respeito e fama que lhe parecem de direito. De uma forma ou de outra, desligando-se de preocupações práticas, o que é certo e irrefutável é que a banda de Mark Linkous é uma pérola esperando por ser encontrada, querendo ser descoberta, implorando por seus ouvidos, merecendo seus sonhos.

Sparklehorse - Homecoming Queen
(do disco Vivadixiesubmarinetransmissionplot)



Sparklehorse - Hammering the Cramps
(do disco Vivadixiesubmarinetransmissionplot)


Discografia:

Vivadixiesubmarinetransmissionplot (1995) * * * * * √
Good Morning Spider (1998) * * * * * √
It's a Wonderful Life (2001) * * * * *
Dreamt for Light Years in the Belly of a Mountain (2006) * * * * * √

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