sábado, 16 de agosto de 2008

I know what you have done!


Destacar qualidades musicais sem apelar para preciosismo é como fazer mímica. Por isso entendo a iniciativa de blogs que deixam a música falar por si, e disponibilizam downloads apenas. No entanto nosso entusiasmo às vezes não cabe apenas na audição, e precisamos criar uma linguagem para esgotá-lo.
Não me lembro agora a última banda inglesa que me impressionou, mas tenho a sensação que as últimas bandas que lá eclodiram depois do ano 2000 pareciam deliberadamente traduzir a retromania americana anos 70 para o sotaque britânico. Guitarras cruas de acordes cheios, a velha palhetada downstroke e a eterna invocação a juventude de Iggy, Reed, Weller, Bowie e companhia. Além do esforço óbvio ser cansativo, quando essas bandas encontram a própria voz a diversão inicial já caducou. Um quarto disco geralmente é o mais autêntico e ao mesmo tempo irreconhecível diante do primeiro, como aqueles transviados que encontram um caminho e não cumprimentam mais velhos amigos. É a diferença entre um disco que “arrasa na pista” e um disco que obriga o ouvinte a parar para ouvir. Os quatro discos do Elbow fazem parte da segunda categoria.
A primeira coisa que salta aos ouvidos é a magnífica voz de Guy Garvey. Mais ainda, ele sabe cantar e tem personalidade suficiente para dispensar essa banda de nome esquisito e seguir solo. Suas melodias são ricas e de estilo diversificado. Faz frente sem impostar a voz e lembra a fase final de Bowie. Se conseguimos nos desprender de sua força vocal e prestamos atenção aos instrumentos e produção, fica claro por que Garvey não se deixou levar ainda numa ego trip e partiu solo. É simples o suficiente para fazer inveja a qualquer banda de fim de semana, mas também sofisticado o bastante para dificultar uma performance ao vivo. Sabem criar belos fundos atmosféricos de microfonia, harmônicos, e uma variedade discreta de instrumentos. Aliás, esse é um show que eu pagaria caro para assistir sem incômodos de super lotação, vontade de ir ao banheiro, má companhia ou ruídos de má acústica. Seu último disco The Seldom Seen Kid é menos abstrato, mais acessível e faz pensar que rádio poderia ser uma invenção melhor aproveitada.
Eles não estão inventando moda nenhuma, porém conseguem ser uma das bandas mais inovadoras da atualidade, deixando-se levar por cada música, escutando o que elas pedem. Quanto mais atenção você lhes dedica mais elas lhe dão em retorno.

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