sábado, 30 de agosto de 2008

Enquanto o vinil empena ao sol...


Quem cresce sem um bom e tradicional avô para o sentar no colo da história pode se pegar nostálgico de coisas que nem viveu. E para preencher esse vazio assumir um conservadorismo com recortes de jornal velho. Em essência todo purismo desses diagnósticos precipitados (sempre precipitados) do declínio da cultura repousa nessa saudade de algo que nunca houve.
A minha geração testemunhou boquiaberta o exponencial avanço da informática, e mesmo sem assimilar, esta penetrou na vida de tal forma que não consigo me imaginar sem acordar e ligar o computador, e mais importante, sem meu suprimento diário de mp3.
Eu já tentei colecionar vinis e desisti pela falta de renovação nos sebos em que mofava. Claro, só chegava coisa nova quando algum colecionador morria de doença cardíaca ou solidão, e lá iam descarregar suas tralhas na porta do sebo. Impossível competir com o ritmo de uma banda larga de sei lá quantos gigas.
Mas sim, correndo o risco de cair no velho discurso circular (disco arranhado), eu sinto falta dos tempos do vinil. Mesmo ciente do fator fetiche, do quão imprático e frágil era o bolachão, e de como as novidades demoravam até rodar na minha vitrola, eram tardes sagradas aquelas que estreiavam o lado A de alguma banda que eu só ouvira falar.
Lembro-me de quando o CD já era moda há algum tempo, mas os vinis ainda eram vendidos a preço de banana para se desfazerem daquele último estoque, e eu juntava o troco do pão para salvá-los do descaso. Descobri as bandas intemporais por aqueles vinis, como Sonic Youth, Smiths, e etc.
Algumas delas eu não descobri por vinil, mas estas me transportam para esse tempo do qual não desfrutei, como o Felt.
A banda nasceu em 1980 e parecem ter crescido e morado a vida inteira lá, para que sempre a escutemos com saudade. Longe de soarem datado, parecem não acompanhar o ritmo do nosso tempo, marcado por hits, singles, e muito barulho por nada. Lawrence construiu sua obra numa dimensão intangível, com uma sensibilidade que não é capturada nas malhas comerciais. Aí imprimem à banda esse status ambíguo de cult, que parece uma vingança póstuma da indústria fonográfica. Mas claramente nota-se que é uma banda despretensiosa, prestando tributo a seus inspiradores (Tom Verlaine, Lou Reed...) com uma voz singular, um guitarrista excepcional e atmosfera de dar calafrios. Álbuns que eu pagaria uma fortuna para resgatar se encontrasse em algum cemitério de vinis...


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