quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Levante Sua Cabeça, Brett...


1998 foi um ano ruim. E nem mesmo me refiro à Copa do Mundo.
Viu-se nesse período algumas das bandas mais importantes das últimas décadas encerrando suas atividades de forma melancólica, enquanto algumas das futuras bandas medíocres das décadas seguintes começavam a lançar sua falta de talento sobre a humanidade incauta.
Enquanto reais inovadores como Faith No More penduravam as guitarras, Coldplay levantava sua feia cabeça. No mesmo momento em que Refused desbandava, algo como 30 Seconds to Mars ganhava as ondas de rádio. Ao som triste do desplugar da guitarra de Paige Hamilton e seu Helmet foi ouvido o primeiro acorde de Interpol e quando Jesus and Mary Chain batia seu cartão, a pretensa salvação do rock, Strokes, clamava por atenção e elogios descabidos.
Resumindo, enquanto perdíamos bandas definidoras de gêneros, grupos pioneiros que, com suas próprias mãos, guitarras, baterias e gargantas, forjaram praticamente sozinhos os caminhos das próximas décadas na música, "ganhavamos" os genuínos Nada, bandas insossas, inócuas, insignificantes e inofensivas.
Em 1998 a MTV e o rádio eram dominados impiedosamente pelas mesmas coisas que sempre foram, não havia nada de novo e, irremediavelmente, quando se sintonizava o canal ou o rádio, o que se ouvia era o "hit do momento", Steven Tyler insistia que não queria perder nada, e o que era perdido era a paciência de quem queria algo bom, interessante, instigante, e não as mesmas ladainhas maçantes e sonolentas.
Nesse ano o mundo indie festejava à toda um dos poucos álbuns levemente interessantes do ano, Without You I'm Nothing, e a androginia pré-fabricada de Brian Molko e o restante dos membros do Placebo. Festejavam, com suas golas rolês e cérebros puídos, suas boinas e idéias mofadas, mais um lançamento insípido de Belle and Sebastian e, para encerrar minha diatribe contra tão nefasto período, os Backstreet Boys e Britney Spears influenciavam gerações de pré-adolescentes a... bem... absolutamente nada.
Porém, e, felizmente, quase sempre há um porém, uma banda, longe dos radares dos formadores de opinião do populacho, trilhava silenciosamente, à sombra de outros grupos mais populares de sua própria cidade, um caminho tanto quanto peculiar e estava por lançar o que seria seu terceiro e mais empolgante disco. No dia 5 de maio de 1998, enquanto eu e você provavelmente não faziamos nada importante, Brett Netson (guitarra e vocal) lançava com seu CAUSTIC RESIN o definitivo e soberbo álbum entitulado THE MEDICINE IS ALL GONE.
O disco consiste em 13 músicas como você nunca ouviu. As guitarras de Netson soam poderosas, como se emanassem de profundezas subterrâneas e alcançassem ouvidos que, de grandes altitudes, querenam rumo ao intransponível solo (pun intended). Sua voz é urgente, suas melodias, 'antêmicas' e confortáveis. Apesar da agressão iminente em todas as faixas, há um caráter sublime, conspícuo e avigorante em suas músicas, que são passíveis de audições repetidas sem o menor traço de agastamento.
É de fato um crime, porém nada surpreendente, que, em ano marcado por tudo que fora citado, um trabalho magnânimo de tal calibre tenha passado despercebido. Brett Netson merece por esse disco, e não apenas por ele, todas as congratulações e benefícios de verdadeiros monstros do rock, embora, é certo, tenha recebido apenas uns tapinhas nas costas.
C'est la vie.


Caustic Resin - Hate in Your...
(do disco The Medicine is All Gone)



Caustic Resin - Once and Only
(do disco The Medicine is All Gone)



Caustic Resin - People Fall Down



Caustic Resin - Mysteries of...
(do disco The Medicine is All Gone)



Caustic Resin - Hold Your Head Up
(do disco The Medicine is All Gone)




Caustic Resin - The Medicine is All Gone










01 - Cable
02 - Niacin
03 - Hate in Your...
04 - Once and Only
05 - Dripping
06 - Half Step
07 - Salamander
08 - Man From Michigan
09 - You Lie
10 - Station
11 - Mysteries of...
12 - Hold Your Head Up
13 - Enough


Discografia:

Body Love Body Hate (1993) * * *
Fly Me to the Moon (1995) * * * *
The Medicine is All Gone (1998) * * * * * √
Trick Question (1999) * * * *
The Afterbirth (2000) * * * *
Keep On Truckin' (2003) * * * * * √

√ - (Volume-11 pick)

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