segunda-feira, 25 de maio de 2009

Breve história de supreendentes decepções

Alguns discos nunca tiveram seus genuínos sucessores corretos, no entanto, algumas bandas estranhamente parecem pegar o trabalho onde outras deixaram e continuar o legado de uma outra banda que poderia ter sido excelente, mas parou com apenas aquele primeiro disco e, ao meu ver, isso nem sempre acontece de forma deliberada. Babylon Zoo, em 1996, teve, por sorte, aparentemente, um grande disco, The Boy With the X-Ray Eyes. Desse disco saíram grandes singles, como Spaceman e Animal Army, em sua época, tenha certeza, X-Ray Eyes quase derreteu de tanto que rodava dentro do meu som (gerando até algumas piadas internas entre amigos que duram até hoje).
Porém, quando Babylon Zoo lançou seu próximo disco, que decepção. Tudo que era bom, havia sumido, em seu lugar um som aguado, uma fórmula diluída do que o músico responsável pensava que o público gostaria de ouvir, estava ali um CD que serviria muito mais como apoio para copos do que qualquer outra coisa.
Porém, em 1998 veio, de uma outra banda, a tão aguardada sequência, Without You I'm Nothing, do Placebo, parecia juntar os caquinhos deixados pelo Babylon Zoo e juntá-los em algo digno de ter sido o 'follow up' tão desejado. Tanto em conteúdo quanto em estilo, o segundo disco do Placebo, de olhos fechados, poderia ser confundido com o que se imaginava e se esperava do Babylon Zoo.
Enfim, se em alguns casos, como esse exemplificado, talvez a semelhança se dê fortuitamente, em outros a coisa parece muito mais deliberada. Em 1992, pouco antes dos acontecimentos relatados acima, LILYS, banda que Kurt Heasley, daí em diante, usaria para dar vida à suas idiossincrasias e vontades (nem sempre congruentes), lançaria um disco chamado In the Presence of Nothing.
Chamá-lo de sucessor óbvio de Loveless, lançado apenas um anos antes pelo My Bloody Valentine, parece uma descrição cabida e, talvez, julgando pelo seu conteúdo, a descrição que mais agradaria Kurt. In the Presence of Nothing é shoegaze em seu estado mais puro; guitarras distorcidas com grandes doses de reverb, batidas hipnotizantes, vocais suaves e barulho, uma boa dose dele.
Naturalmente, Kurt não consegue atingir o mesmo nível de genialdade que My Bloody Valentine conseguiu com Loveless, no entanto, sendo este um disco tão fantástico, isso em nada depõe contra a qualidade de In the Presence of Nothing. Músicas como a que abre o disco, There's No Such Thing as Black Orchids, ou então Periscope, satisfazem perfeitamente os ouvidos mais exigentes.
O excelente trabalho de guitarra que caracteriza toda a obra de Heasley, assim como suas melodias marcadas por sua voz aconchegante, diferencia esse album de mais outros tantos de bandas que apenas procuravam capitalizar no breve fenômeno do shoegaze. O clima que permeia o álbum é o de sonhos diurnos, aqueles que você tem enquanto acordado e, certamente, se houvesse uma trilha sonora pra tais momentos, In the Presence of Nothing seria seu nome. Cada uma de suas músicas parece cuidadosa e habilmente composta para aquecer a alma, tranquilizar o coração e inspirar abstrações, principalmente a 'tormenta' sonora de 12 minutos que é The Way Snowflakes Fall.
Felizmente, Kurt Heasley e seu Lilys conseguiu o que muitas bandas não conseguem, continuar o bom trabalho. Nos anos que se seguiram vieram outros álbuns. A Brief History of Amazing Letdowns, praticamente perfeito (se descontar a última pequena música, que justifica o nome do disco), pequenas pérolas como Dandy, Ginger e Jenny Andrew and Me fazem deste breve disco (apenas 6 músicas e pouco mais de 22 minutos) obrigatório para qualquer fã de shoegaze.
Em seguida veio Eccsame the Photon Band, talvez o melhor disco da carreira da banda. A facilidade com a qual Kurt compõe obras primas como High Writer at Home, The Turtle Which Died Before Knowing, Day of the Monkey, FBI and Their Toronto Transmitters e especialmente a fantástica The Hermit Crab, é assombrosa. Eccsame é uma experiência e tanto, sugere caminhos que, se outros fossem mais atentos e dispostos a novidades, o shoegaze deveria ter seguido. É, sem dúvida, uma obra prima do gênero.
Embora nos anos que se seguiram Kurt tenha conseguido manter a qualidade indiscutível de seu trabalho na maioria absoluta do que fez, Eccsame marcou a sua despedida do shoegaze. Daí em diante, com discos como The 3-Way, Precollection e Everything Wrong Is Imaginary, Kurt mergulhou mais em um peculiar revival de suas influências mais antigas (como Love e The Kinks), e, enquanto os discos posteriores, especialmente Everything Wrong, sejam grandes álbuns, eles não fazem justiça aos grandes dias que Kurt passou sob o quente mormaço envolvente do shoegaze.
Sem esquecer a qualidade presente nos seus trabalhos subsequentes, eu não consigo não me perguntar: será que alguém um dia lançará, intecionalmente ou não, um disco que eu poderei considerar como o sucessor devido para Eccsame the Photon Band? Eu definitivamente espero que sim.

Lilys - Dandy
(do disco A Brief History of Amazing Letdowns)



Discografia:

In the Presence of Nothing (1992) * * * * √
A Brief History of Amazing Letdowns (1994) * * * * √
Eccsame the Photon Band (1995) * * * * * √
Better Can't Make You Life Better (1996) * * * *
The 3-Way (1999) * * * *
Precollection (2003) * * * *
Everything Wrong is Imaginary (2006) * * * * √