domingo, 16 de maio de 2010

Ariel Pink vs Pink Floyd


Há alguns meses tenho tido a chance de observar uma lenta porém drástica revolução na vida de um colega de profissão. Ele, que tem a minha idade, é mais careca e já avançou mais na carreira do que eu, decidiu abandonar tudo (gradualmente) e se tornar astro de Rock.
Não tem como não admirar sua coragem. E isso é basicamente tudo. Não que seja desprovido de técnica ou talento, (na minha opinião tem aquela de sobra e uma pequena reserva inexplorada deste), mas é meio deprimente vê-lo tocando cover mofado de rock´n roll com aquele carisma de apresentador de bingo para cabeludos da periferia. Eu já até me arrepiei quando conseguiram numa noite mágica reproduzir com perfeição aquela do Pink floyd, solo a solo. O gordinho ao meu lado estava quase chorando. Ao fim do show ele foi pedir o telefone e e-mail dos músicos, efusivamente lhes garantindo que foi o melhor cover que já tinha visto. São os louros da conquista. Coisas pequenas, mas que têm encorajado meu colega a perseguir seu sonho. Começou a dar aula de violão para crianças e está fazendo turnê nos bares da cidade, onde nas horas vagas discorre em tom sindical sobre as dificuldades que um músico enfrenta desde o momento em que pretende fazer disso sua profissão (primeiro a falta de incentivo dos pais, depois do estado e blábláblá...).
No alto de sua ingenuidade ele acha que seu maior obstáculo é a falta de prestígio que a cultura brasileira reserva ao músico. Ele acha que se o músico tivesse estabilidade e um lugar cativo no rol das profissões poderia trabalhar em paz (estabilidade é o sonho mor na minha cidade, onde os concursos públicos imperam no imaginário adulto).
É uma idéia interessante pelo pragmatismo, vinda de um beatlemaníaco xiita para quem nada mais é relevante, pois Beatles e Pink floyd já realizaram tudo.
Eu, em contrapartida, não quero fama e fortuna (talvez estabilidade, ok), não sei solar, e direciono minha esperança para a prolífera música contemporânea independente.
Eis um exemplo.
Ariel Pink era um jovem abastado porém esquisito da parte nobre de L.A, que produzia despretensiosa e incansavelmente música com o que lhe caísse nas mãos, ou até de mãos vazias, com a infame sanfona de sovaco ou com a bateria de boca. Vaiado e escorraçado das apresentações públicas não desistiu. Até que a providência o levou ao conhecimento daquela banda, que na época era apenas promissora e hoje é o futuro, Animal Collective. Pasmos com a originalidade, convidaram-no para entrar em seu selo Paw tracks que naquele tempo só comportava eles mesmos.
Ariel Pink provavelmente não será conhecido pelo meu colega roqueiro, e se lhe chegar aos ouvidos não agradará pela má gravação nem soará como novidade. Mas quem sabe reconhecer a fagulha do gênio, que inspira pela liberdade e desrespeito a convenção, se sentirá compelido a superar qualquer obstáculo que sirva como desculpa para falta de criatividade.

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu amo Ariel Pink. Haunted Graffiti é o futuro absoluto da música. Ariel is god!