sábado, 14 de agosto de 2010

Relaxa aí, Chaz!

Um universo pouco explorado em nossas crônicas é o do DJ, por razões óbvias: é difícil extrair dele algum conteúdo humano, instigante emocional ou intelectualmente. O hip-hop e a música eletrônica conferiram status de celebridade a esses que antigamente eram uma espécie de diletante com talento para coração da festa. A internet e a tecnologia colocaram ao alcance das mãos de qualquer um esse poder, porém, esse acesso fácil faz com que o diferencial nessa prática seja o que é mais difícil de se samplear, ou baixar: bom gosto.

A indústria de entretenimento pode ser bem recompensadora até num país como o Brasil. Conheço um exemplo aqui na minha cidade do monopólio de uma certa produtora de eventos que dominou as principais festas da cidade e já se estende para a Europa com uma combinação de: um pequeno contingente de 3 ou 4 djs, que também são editores gráficos, um set médio que comprovadamente apela aos ouvidos de meus conterrâneos, e egos gigantescos que atraem olhares e fama. Vivem o sonho de rockstar em uma casa digna de MTV cribs no melhor bairro da cidade, são invejados pelos homens, assediados pelas mulheres, bajulados pelos gays e sempre bem-vindos onde quer que cheguem. Graças a sua iniciativa e visão contribuíram para as opções de diversão tão escassas na cidade, que há poucos anos atrás ainda dependia de festas clandestinas que se realizavam em casas de amigos que iam a forra na ausência dos pais.

Todos os benefícios da fama sem a angústia da autoria, é difícil de imaginar uma situação mais confortável. Eventualmente pode ser frustrante ficar a mercê dos caprichos da pista de dança, mas nada que ameace o tão cobiçado estilo de vida. Os mais ousados podem arriscar produções pessoais no Reason, mas é bem provável que a infinidade de samples que ele oferece não seja o suficiente para se fazer algo pouco acima do medíocre.

Até que nos deparamos com algo como Toro y moi, o projeto de Chazwick Bundick e percebemos que o material estava lá o tempo todo, carecia apenas de uma sensibilidade que se apropriasse dele e lhe desse alguma conformação. Chazwick largou a guitarra e o vocal da banda The heist and the accomplice e se apossou desse material com impressionante desprendimento. Ganhou o rótulo meio banal de chillwave graças à qualidade relaxante de seus sintetizadores, timbres e filtros, que diluem suas melodias num vapor de veraneio... inspira bons momentos, clima agradável, amigos... nada glamouroso, como os similares no hip-hop, e muito mais ingênuo e aventuroso que as grandes produções do Pop. Diversão desencanada para variar.